quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Eugenio C. deixou legião de fãs.

Quatorze anos depois de partir, navio é lembrado como ícone da navegação.
O Eugenio C, em imagem do cartão postal oficial da companhia italiana
Linea C, com seus 217,39 metros de comprimento e peso de 30 mil toneladas
.
O Eugenio C. foi um dos navios mais queridos por todos os que nele viajaram. E também por muita gente que o tem como ícone de um período da navegação transatlântica. Ao contrário de outros navios, teve vida longa – 40 anos percorrendo os mares com seu nome original e com outros três, que se alternaram até o corte, num estaleiro de Alang, na Índia. Ainda houve uma tentativa de manter o navio inteiro como atrativo no porto de Gênova, na Itália. Mas o projeto não deu certo.

Lançado ao mar em novembro de 1964, o Eugenio C fez a viagem inaugural com membros da família Costa, italianos donos da companhia Linea C, em agosto de 1966. Durante 20 anos percorreu a rota entre Europa e América do Sul. Esteve dezenas de vezes em Santos. Em 1986 acrescentou o Costa ao nome. E permaneceu como Eugenio Costa durante 10 anos, até a viagem final em 1996 pela companhia italiana.
O Eugenio C. foi um navio símbolo de sua época, e a representação material da itália no Brasil.
Em 1997 foi vendido para a armadora britânica Lowline e rebatizado como Edinburgh Castle. Em 1999, comprado pela Premier Cruise, teve um final infeliz: o casco foi pintado de vermelho e ganhou nome polêmico: The Big Red Boat II. Com a falência da empresa em 2000 ficou parado em Freeport, nas Bahamas. O navio deteriorou de vez, perdeu o mobiliário e acabou vendido para sucata no final de 2005. Em 2006 começou a ser cortado em pedaços na Índia.

O Eugenio C deixou saudades em muitos de seus fãs de Santos. Ele era uma dessas lendas que se tornou realidade e como tal continua lembrado.

Para alguns desses fãs do navio, como Emerson Franco Rocha da Silva, há algo mágico em estar em um navio. “Apesar de todo luxo, conforto e beleza dos navios novos, ainda não encontrei nem fiz uma viagem que possa comparar com as do Eugenio”. E complementa: “A magia e o encanto, que envolviam as viagens no Eugenio, eram em parte por esta energia que era dele, pelo ar que respirávamos ali dentro”.
Eugenio Costa passando pela Ponta da Praia, na altura do Aquário Municipal, na década de 90.
Emerson teve o privilégio de “conhecer” o Eugenio mesmo antes de nascer. É que sua mãe, Elizabeth, grávida dele, sempre ia ver o navio no porto para lembrar de uma viagem da família para Portugal em 1967. “Quando eu era pequeno me apaixonei pelo navio e tinha o sonho de viajar. Fui dezenas de vezes a bordo, mas a primeira viagem só se realizou em 1994 para a Argentina, viagem maravilhosa no meu navio favorito. Houve outra em 1995 e finalmente a despedida em 1996, em que fiz Santos-Rio apenas para me despedir do meu velho amigo, que apesar de estar com 30 anos de navegação e precisando de alguma reforma ainda era imponente”.

Hoje, Emerson mantém no Orkut a comunidade chamada “Eugenio C”, com histórico do navio e comentários de viagens trocados por 252 pessoas que a freqüentam.
O Eugenio C. foi o último transatlântico clássico construído na Itália,
o navio foi muito apreciado por suas linhas clássicas.
O despachante aduaneiro Laire José Giraud, colecionador de cartões-postais de navios, lembra de seu primeiro contato visual com o Eugenio C numa noite do verão de 1967. “Estava com amigos no restaurante do clube Vasco da Gama quando repentinamente notei que um grande navio, todo iluminado, se aproximava da antiga ponte dos práticos. Era o maravilhoso Eugenio C, com suas linhas ultramodernas para a época. O navio tinha duas chaminés paralelas, que o diferenciava dos demais”. Laire diz que na época pensou que um dia viajaria no navio, mas isso não aconteceu.

O administrador Paulo Silvares teve o privilégio de realizar uma grande viagem de 35 dias no Eugenio C. Foi em 1972, saindo de Santos com destino a Miami, passando por Venezuela, México e Caribe. “Viajar no Eugenio C era o sonho de consumo de todo jovem, pois era muito badalado e tinha apresentações de música, shows incríveis e ainda possibilitava conhecer a Disney!”
Eugenio Costa atracado no Píer Mauá, no Rio de Janeiro.
Paulo recorda que a viagem foi dividida em classes A e turística, e quem era de uma não entrava na outra. “Impressionaram a organização dos serviços a bordo e a fartura de comida (já eram seis refeições). O navio era grande e tinha 1.500 passageiros. Uma cidade a bordo! O que mais me marcou foi que na península de Yucatã (México) descemos de botes, mergulhamos no mar mais azul que eu já vi e depois comemos o peixe mais apimentado da minha vida. Foi um cruzeiro incrível!”

O jornalista santista Sérgio de Oliveira, que trabalha na Alemanha, visitou o Eugenio C em 1980. Seu primeiro contato direto com o navio deixou marcas: “Mais que um navio ele era um fascínio e uma lenda”, diz. ”O Eugenio tinha um certo aroma no ar, uma mistura de perfume e tabaco com algo mais que permeava aquela atmosfera. Da tonalidade da madeira que compunha o corrimão de cada classe, aos pisos e a luz natural o navio inspirava uma certa solenidade e ao mesmo tempo convidava ao relaxamento e ao bom viver”.
Eugenio em seus últimos dias, como big Red Boat II. Ao fundo é possível ver o Rotterdam na época Rembrandt, que também já fez temporadas no Brasil.

Ele descreve o navio em detalhes e os tem na cabeça e em folhetos que guardou. ”O Eugenio era um palácio moderno. Sem ouro e cristal à mostra, mas com o bom tom do design italiano conferindo-lhe formas e decorações que o transformavam em algo além de um grande hotel”.

No Eugenio cada poltrona e sofá foi desenhado por Nino Zoncada. “Era símbolo de status e bom gosto, transporte de nobreza e imigrantes de sorte, modelo do design italiano e o mais veloz em mares tropicais. Infelizmente não teve a sorte de encontrar quem quisesse preservá-lo”. Em 1998 Sérgio passou 14 dias a bordo do então Edinburgh Castle. Muito do que era o Eugenio já havia desaparecido.
Big Red Boat II deixando os Açores para rumar a Alang, seu destino final.
O jornalista conclui que o que mais o agradava no Eugenio era vê-lo passar. ”Me entristece saber que isso não será mais possivel. Nessa época em que tantos navios de cruzeiro se parecem, faz falta um Eugenio, navio de linha, de desenho único e sucesso ímpar ”. A sua observação, com certeza, é compartilhada por muitos fãs. Imagens (©) Copyright Jornal da Orla (primeira), Autores dos Cartões Postais extraídos do site SimplonPostacards e Luis Miguel Correia (última). Texto (©) Copyright Jornal da Orla, Santos.

3 comentários:

Bruno Rodrigues disse...

Esta última foto foi tirada em Ponta Delgada, nos Açores. Lembro-me desse dia, aliás muitos se lembram, pois a cidade (como se pode imaginar pela foto) ficou cheia de fumo! O navio partiu depois de alguns dias por cá atracado. Necessitou de reparação para prosseguir a viagem até Alang. Triste fim para este navio.

Daniel Capella disse...

Parece que alguém achou o autor já!

Daniel Capella disse...

Sim, após alguma pesquisa localizei esta informação, vi até, que no mesmo dia estava nos Açores o Aurora, da P&O. Só o autor que eu não tinha localizado, mas parece que alguem já o localizou. Realmente um triste fim, ainda mais com todo este fumo, deixou uma má reputação ao navio...