sexta-feira, 6 de abril de 2012

Sino do luxuoso iate "Varuna" na Fajã da Ovelha, na Calheta

O blog Sergio@Cruises visitou ontem a capela de São Lourenço, na freguesia da Fajã da Ovelha, no Concelho da Calheta, onde está colocado e em plenas funções e estado de conservação, o precioso sino com o nome VARUNA. Segundo a população local, foi recolhido por pescadores da zona, pouco tempo depois do naufrágio do luxuoso Varuna. Aliás, o dito sino ostenta escrito o nome "Varuna", se bem que pintado com tinta mais recente que o próprio iate.
Sendo Eugene Higgins (1860-1948), o proprietário do Varuna, era o herdeiro da fortuna do seu pai, que esteve ligado ao fabrico de carpetes, que vivia sem preocupações, dedicando-se a viajar pelo mundo a bordo do seu iate.
Breve história do iate Varuna
Um artigo do NYT de 22 de Novembro de 1896, redigido pelo seu correspondente em Glasgow, na Escócia, referia que o Varuna, iate de 1500 toneladas construído num estaleiro naval de A. & J. Inglis of Pointhouse Partick, junto ao rio Clyde, já havia sido lançado à água e estava quase pronto para ser entregue ao seu proprietário, o milionário nova-iorquino Eugene Higgins. Referia que nenhum membro da nobreza britânica e ainda muitas cabeças coroadas da Europa não se podiam gabar de possuir um barco semelhante. O Varuna era construído em aço, tinha duas hélices, deslocava-se a uma velocidade máxima de 17 nós, era pintado de branco e o seu interior estava luxuosamente decorado, da proa à popa. Este iate possuía ainda amplos camarotes para o seu dono e convidados, revestidos em madeira de carvalho, e ainda alojamento para a numerosa tripulação. Tinha, ainda, estabilizadores, para proporcionar maior conforto aos passageiros durante as travessias marítimas mais agitadas, e entre as suas várias inovações contavam-se compartimentos de contra-afundamento, de modo a manter o iate a flutuar em caso de acidente.
O naufrágio do Varuna na imprensa está na edição de 17 de Novembro de 1909 do NYT, este jornal de referência publicou o conteúdo de um telegrama recebido da Madeira no dia anterior, referindo que o Varuna, pertencente a Eugene Higgins, membro do New York Yacht Club, havia encalhado na costa noroeste e que dois rebocadores haviam ido em assistência ao navio (um lapso, visto que, segundo afirmou na altura o DN, foram o Gavião e o Açor, navios de cabotagem, que foram em seu auxílio).
Esta mesma notícia foi ainda publicada no NYDT na edição do mesmo dia, acrescentando alguns dados sobre Eugene Higgins e o seu iate, cujas últimas notícias remontavam à sua saída das Bermudas, a 5 de Novembro. Sobre o seu proprietário foi referido que contava 41 anos de idade (na verdade tinha 49), possuía uma fortuna pessoal estimada em 50 milhões de dólares, era licenciado pela Universidade de Columbia, sendo ainda membro dos mais famosos clubes de iates de Nova Iorque e da Europa. Foi, ainda, referido que passava a maior parte do tempo no seu Varuna, onde mantinha a disciplina de um navio de guerra, e que todos os seus convidados tinham de agir em conformidade com as suas orientações
Na edição do dia 18 do NYT foram publicadas notícias emitidas do Funchal na véspera, dando conta do facto de Eugene Higgins e seus convidados se encontrarem bem, apenas se registando um desaparecido, de entre os membros da tripulação. Noticiou também que aquando do encalhe do iate, às duas da manhã, foram lançados botes à água com o dono do barco e seus convidados, que foram desembarcados em Ponta Delgada, indo alguns botes até o Porto Moniz e São Vicente. Os tripulantes de outro bote foram salvos por um vapor que passava por perto e foram trazidos para o Funchal. Nada foi salvo do iate, que foi arrastado por ondas revoltas para a costa, caracterizada por altas falésias e pequenas baías. Acrescentava que alguns dos náufragos permaneceram na costa, perto do local do naufrágio, enquanto que outras pessoas do grupo foram para algumas aldeias, onde foram alojados e alimentados. Era ainda referido que o mar se encontrava muito agitado naquele dia e que o Varuna embatia violentamente contra as rochas, e que apesar da sua estrutura em aço o navio parecia estar perdido. Aqui fica o registo duma valiosa peça do luxuoso iate "Varuna", que é relembrado uma vez mais a história deste belo e luxuoso iate . Images copyrights; Fotos com direitos reservados; Sergio Ferreira-Funchal.

1 comentário:

Unknown disse...

E o apito a vapor deste barco esta no engenho da Calheta